quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Agosto, mês do desgosto? Por João Baptista Herkenhoff
João Baptista Herkenhoff
O oitavo mês do ano, que está prestes a terminar, associado a pesar, tristeza, dissabor, sofrimento tem um profundo enraizamento na alma popular. Talvez a crendice tenha origem em Portugal, onde as mulheres nunca se casavam no mês de agosto. Justamente no mês de agosto, os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto significava ficar só, sem lua-de-mel e ainda correr o risco de sofrer uma viuvez precoce.
Nem Vinicius de Moraes fugiu ao presságio negativo do mês de agosto que, no Zodíaco, é comandado por Leão.
Nos versos do Poeta ”a mulher de Leão brilha na escuridão. A mulher de Leão, mesmo sem fome, pega, mata e come. A mulher de Leão não tem perdão. As mulheres de Leão leoas são. Poeta, operário, capitão. Cuidado com a mulher de Leão!”
Também outra justificativa para essa crença de agosto azarado é o fato de muitos episódios tristes, no mundo e no Brasil, terem acontecido no mês de agosto. Senão vejamos.
Em 24 de agosto de 1572, por ordem de Catarina de Médici, ocorreu o massacre dos huguenotes.
Na cidade de Nova York, no dia 6 de agosto de 1890, o primeiro homem foi eletrocutado numa cadeira elétrica. Esta primeira execução traduz uma mensagem de iniquidade. O Estado, arvorando-se em defensor da sociedade, afirmava, erroneamente, ser legítimo tirar a vida de alguém.
Entre os dias 6 e 9 de agosto de 1945, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki foram destruídas pela bomba atômica, nisto que foi certamente o maior genocídio da História.
No Brasil, dois presidentes da República, muito amados pelo povo, morreram tragicamente no mês de agosto.
Em 24 de agosto de 1954 Getúlio Vargas praticou suicídio, “saindo da vida para entrar na História”.
Em 22 de agosto de 1976, Juscelino Kubitscheck faleceu, vítima de um desastre automobilístico.
Agosto parece ser mesmo mês do desgosto, mas não no Estado do Espírito Santo. Em nosso calendário cívico tem sido assinalado por celebrações festivas, como ocorreu neste ano.
Entre os dias quinze e dezessete realizou-se em Vitória a Quinta Conferência Internacional de Direitos Humanos, que trouxe ao Espírito Santo figuras exponenciais do mundo jurídico.
No dia dezessete de agosto foi comemorado o cinquentenário de fundação da Academia Cachoeirense de Letras.
No dia vinte e quatro de agosto mais uma vez ocorreu a entrega do Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes.
O Governador Renato Casagrande promoveu a entrega do Prêmio com a máxima solenidade e grandeza, embora o Prêmio tenha sido uma iniciativa do Governador Paulo Hartung. Essa atitude merece parabéns.
Este Prêmio foi criado com duas finalidades: relembrar o Bispo que tantos serviços prestou ao nosso Estado; cultuar pessoas que testemunham os valores éticos a que Dom Luís consagrou sua existência.
O Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes, nesta sua oitava edição, homenageou duas instituições e seis pessoas: AFECC – Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer; Ateliê de Ideias, um espaço onde as comunidades encontram apoio para transformar ideias em projetos; Assunta Caliman, Agente Comunitária da Diocese de São Mateus, uma campeã na coleta de assinaturas destinadas a promover mudanças sociais; Isabel Aparecida Borges da Silva, defensora dos direitos dos encarcerados; Renato Moraes de Jesus, ecologista internacionalmente reconhecido; Ruth de Albuquerque Tavares, militante presbiteriana com profunda vocação ecumênica; Leonardo Boff, teólogo e filósofo, cuja voz alcançou ainda mais veemência, depois que forças conservadoras do Vaticano pretenderam lhe impor a pena de silêncio, hipocritamente adjetivado como obsequioso; e Cônego Maurício de Mattos Pereira, um sacerdote que fez radical opção pelos pobres. (Homenagem póstuma).
João Baptista Herkenhoff é professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
O oitavo mês do ano, que está prestes a terminar, associado a pesar, tristeza, dissabor, sofrimento tem um profundo enraizamento na alma popular. Talvez a crendice tenha origem em Portugal, onde as mulheres nunca se casavam no mês de agosto. Justamente no mês de agosto, os navios das expedições zarpavam à procura de novas terras. Casar em agosto significava ficar só, sem lua-de-mel e ainda correr o risco de sofrer uma viuvez precoce.
Nem Vinicius de Moraes fugiu ao presságio negativo do mês de agosto que, no Zodíaco, é comandado por Leão.
Nos versos do Poeta ”a mulher de Leão brilha na escuridão. A mulher de Leão, mesmo sem fome, pega, mata e come. A mulher de Leão não tem perdão. As mulheres de Leão leoas são. Poeta, operário, capitão. Cuidado com a mulher de Leão!”
Também outra justificativa para essa crença de agosto azarado é o fato de muitos episódios tristes, no mundo e no Brasil, terem acontecido no mês de agosto. Senão vejamos.
Em 24 de agosto de 1572, por ordem de Catarina de Médici, ocorreu o massacre dos huguenotes.
Na cidade de Nova York, no dia 6 de agosto de 1890, o primeiro homem foi eletrocutado numa cadeira elétrica. Esta primeira execução traduz uma mensagem de iniquidade. O Estado, arvorando-se em defensor da sociedade, afirmava, erroneamente, ser legítimo tirar a vida de alguém.
Entre os dias 6 e 9 de agosto de 1945, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki foram destruídas pela bomba atômica, nisto que foi certamente o maior genocídio da História.
No Brasil, dois presidentes da República, muito amados pelo povo, morreram tragicamente no mês de agosto.
Em 24 de agosto de 1954 Getúlio Vargas praticou suicídio, “saindo da vida para entrar na História”.
Em 22 de agosto de 1976, Juscelino Kubitscheck faleceu, vítima de um desastre automobilístico.
Agosto parece ser mesmo mês do desgosto, mas não no Estado do Espírito Santo. Em nosso calendário cívico tem sido assinalado por celebrações festivas, como ocorreu neste ano.
Entre os dias quinze e dezessete realizou-se em Vitória a Quinta Conferência Internacional de Direitos Humanos, que trouxe ao Espírito Santo figuras exponenciais do mundo jurídico.
No dia dezessete de agosto foi comemorado o cinquentenário de fundação da Academia Cachoeirense de Letras.
No dia vinte e quatro de agosto mais uma vez ocorreu a entrega do Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes.
O Governador Renato Casagrande promoveu a entrega do Prêmio com a máxima solenidade e grandeza, embora o Prêmio tenha sido uma iniciativa do Governador Paulo Hartung. Essa atitude merece parabéns.
Este Prêmio foi criado com duas finalidades: relembrar o Bispo que tantos serviços prestou ao nosso Estado; cultuar pessoas que testemunham os valores éticos a que Dom Luís consagrou sua existência.
O Prêmio Dom Luís Gonzaga Fernandes, nesta sua oitava edição, homenageou duas instituições e seis pessoas: AFECC – Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer; Ateliê de Ideias, um espaço onde as comunidades encontram apoio para transformar ideias em projetos; Assunta Caliman, Agente Comunitária da Diocese de São Mateus, uma campeã na coleta de assinaturas destinadas a promover mudanças sociais; Isabel Aparecida Borges da Silva, defensora dos direitos dos encarcerados; Renato Moraes de Jesus, ecologista internacionalmente reconhecido; Ruth de Albuquerque Tavares, militante presbiteriana com profunda vocação ecumênica; Leonardo Boff, teólogo e filósofo, cuja voz alcançou ainda mais veemência, depois que forças conservadoras do Vaticano pretenderam lhe impor a pena de silêncio, hipocritamente adjetivado como obsequioso; e Cônego Maurício de Mattos Pereira, um sacerdote que fez radical opção pelos pobres. (Homenagem póstuma).
João Baptista Herkenhoff é professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Direitos Humanos: desafios no Espírito Santo. Por João Baptista Herkenhoff
João Baptista Herkenhoff
Sempre é oportuno discutir a questão dos Direitos Humanos.
Numa primeira apreciação, a realidade nos diversos Estados brasileiros tem similitude. Entretanto, aprofundando a análise, percebe-se que as questões cruciais não são exatamente as mesmas em toda parte.
Ocorrem contradições no Espírito Santo, em matéria de Direitos Humanos.
De um lado temos uma realidade que deve ser denunciada; de outro, testemunhamos uma luta que deve ser celebrada.
Essa realidade que deve ser denunciada tem duas faces.
A primeira face é aquela realidade social negativa que está presente, lamentavelmente, em todo o país: crianças nas ruas, deterioração do ensino público, condições precárias de saúde atingindo grande parte da população, sistema carcerário destruidor da pessoa humana, fome, desigualdade gritante e escandalosa.
A segunda face é aquela, também presente no Brasil em geral, mas que tem tido, em nosso Estado, cores que não nos honram. Essa segunda face pode ser resumida numa frase: violência dramaticamente revelada pelas altas taxas de homicídio.
Segundo dados coletados pelo Ministério da Justiça e tabulados pela Folha de São Paulo, o Espírito Santo foi o segundo Estado mais violento do país tomando-se como medida da violência o número de assassinatos por grupo de 100 mil habitantes (56,6). Em primeiro lugar, situou-se o Estado de Alagoas (66,2).
Um Estado que, por suas riquezas e dimensão reduzida, poderia equacionar seus problemas, dentro de um modelo sócio-econômico com credenciais para servir de paradigma, longe está de cumprir esse destino alvissareiro. Reagiu ao poder diabólico do crime organizado mas ainda não se libertou totalmente desse estigma.
Se esses traços tão tristes de negação dos Direitos Humanos devem ser apontados e condenados, há uma réplica a essas negações, que deve ser celebrada.
Refiro-me à atuação da sociedade civil organizada, contra a violência, contra a corrupção, contra toda forma de desrespeito à sagrada condição humana. Essa presença da sociedade civil não tem sido apenas uma presença de vigilância cívica e de enfrentamento heróico em face das forças sociais deletérias.
Nossa sociedade civil organizada tem tido também uma ação afirmativa, tão construtiva quanto a ação de denúncia porque restauradora da fé nos destinos do povo. Contam-se às centenas as organizações da sociedade civil endereçadas à dignificação da pessoa humana.
Quase sempre o trabalho das associações e respectivos voluntários é um trabalho anônimo, feito com o pudor dos humildes, com a generosidade dos que se doam, com a grandeza dos que confiam e sonham. Assim a luta diuturna de milhares de cidadãos não aparece na imprensa porque a mão direita esconde da mão esquerda o Bem que faz.
Devemos celebrar o que tem sido feito e confiar em que a luta coletiva poderá superar os desafios de hoje. Luta coletiva porque “uma andorinha só não faz Verão”.
João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado, Supervisor da Coordenação Pedagógica na Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br Autor, dentre outros livros, de: Curso de Direitos Humanos (Editora Santuário, Aparecida, SP).
Sempre é oportuno discutir a questão dos Direitos Humanos.
Numa primeira apreciação, a realidade nos diversos Estados brasileiros tem similitude. Entretanto, aprofundando a análise, percebe-se que as questões cruciais não são exatamente as mesmas em toda parte.
Ocorrem contradições no Espírito Santo, em matéria de Direitos Humanos.
De um lado temos uma realidade que deve ser denunciada; de outro, testemunhamos uma luta que deve ser celebrada.
Essa realidade que deve ser denunciada tem duas faces.
A primeira face é aquela realidade social negativa que está presente, lamentavelmente, em todo o país: crianças nas ruas, deterioração do ensino público, condições precárias de saúde atingindo grande parte da população, sistema carcerário destruidor da pessoa humana, fome, desigualdade gritante e escandalosa.
A segunda face é aquela, também presente no Brasil em geral, mas que tem tido, em nosso Estado, cores que não nos honram. Essa segunda face pode ser resumida numa frase: violência dramaticamente revelada pelas altas taxas de homicídio.
Segundo dados coletados pelo Ministério da Justiça e tabulados pela Folha de São Paulo, o Espírito Santo foi o segundo Estado mais violento do país tomando-se como medida da violência o número de assassinatos por grupo de 100 mil habitantes (56,6). Em primeiro lugar, situou-se o Estado de Alagoas (66,2).
Um Estado que, por suas riquezas e dimensão reduzida, poderia equacionar seus problemas, dentro de um modelo sócio-econômico com credenciais para servir de paradigma, longe está de cumprir esse destino alvissareiro. Reagiu ao poder diabólico do crime organizado mas ainda não se libertou totalmente desse estigma.
Se esses traços tão tristes de negação dos Direitos Humanos devem ser apontados e condenados, há uma réplica a essas negações, que deve ser celebrada.
Refiro-me à atuação da sociedade civil organizada, contra a violência, contra a corrupção, contra toda forma de desrespeito à sagrada condição humana. Essa presença da sociedade civil não tem sido apenas uma presença de vigilância cívica e de enfrentamento heróico em face das forças sociais deletérias.
Nossa sociedade civil organizada tem tido também uma ação afirmativa, tão construtiva quanto a ação de denúncia porque restauradora da fé nos destinos do povo. Contam-se às centenas as organizações da sociedade civil endereçadas à dignificação da pessoa humana.
Quase sempre o trabalho das associações e respectivos voluntários é um trabalho anônimo, feito com o pudor dos humildes, com a generosidade dos que se doam, com a grandeza dos que confiam e sonham. Assim a luta diuturna de milhares de cidadãos não aparece na imprensa porque a mão direita esconde da mão esquerda o Bem que faz.
Devemos celebrar o que tem sido feito e confiar em que a luta coletiva poderá superar os desafios de hoje. Luta coletiva porque “uma andorinha só não faz Verão”.
João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado, Supervisor da Coordenação Pedagógica na Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br Autor, dentre outros livros, de: Curso de Direitos Humanos (Editora Santuário, Aparecida, SP).
Multiplicando informação por: Moyses alves dos Santos de Almeida |
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