domingo, 30 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Salve Guarapari. Por João Baptista Herkenhoff

João Baptista Herkenhoff

Em homenagem a Guarapari escrevo esta página, aproveitando a passagem do dia oficial da cidade: dezenove de setembro.

 
Como se sabe, Guarapari é uma praia que previne e cura doenças, além de complementar todo e qualquer tratamento médico. Não existe lugar algum, melhor que Guarapari, para uma boa convalescença.


O poder curativo de Guarapari resulta principalmente das areias monazíticas. Aquele turista-paciente, que chegou entrevado, após poucos dias de tratamento desloca-se com as próprias pernas, sem precisar de auxílio. Foi, rigorosamente, curado.


Receita de saúde para as pessoas em geral? Fazer diariamente uma caminhada ao longo da praia; respirar o ar praiano, sorver os fluídos positivos, sentir o cheiro da maresia. Inspirar o ar, inspirando saúde; expirar o ar, expirando doença.


Que maravilha esses oceanos todos que se espalham pela Terra, ocupando cerca de setenta por cento da superfície do planeta.


Durante permanência de alguns dias, em Guarapari, li o livro “Onde a mente encontra o corpo”, de Harris Dienstfrey. A obra procura demonstrar a influência que as forças mentais exercem sobre o organismo.


Criticam-se muito os livros de auto-ajuda. Inúmeros volumes desse rol são realmente tolos, sem substância. Aproveitam-se apenas de um veio que está sendo lucrativo. Mas não me parece que todos os livros do gênero mereçam condenação. Alguns há, escritos com boa vontade, seriedade e fundamentação. A expressão “auto-ajuda” assumiu um sentido pejorativo, devido à profusão de publicações de má qualidade nesse catálogo.


Mas se entendermos como livros de auto-ajuda os livros de conselho para que as pessoas vençam suas dificuldades, veremos que livros com esse propósito são antigos.


Se nos debruçarmos sobre as “Cartas a um Jovem Poeta”, de Rainer Maria Rilke, veremos que o livro contém poucos conselhos de poesia e muitos conselhos de vida endereçados por Rilke ao jovem que submeteu produções poéticas a sua apreciação. Questões filosóficas, religiosas, existenciais, sexo, amor, solidão, tudo isso está presente nas “Cartas a um Jovem Poeta”.


Que magnífica lição esta que extraímos de uma das cartas:
“Deixe a vida acontecer. A vida tem razão em todos os casos.”
 

Ou este outro conselho que rebusco na mesma fonte:
“Procure entrar em si mesmo.”
 

Contam-se curas extraordinárias em Guarapari. Algumas foram confirmadas por doutos e registradas em livros científicos. Outras ainda não tiveram o placet oficial. Mas acho que mesmo sobre essas curas envoltas em mistério será de bom conselho ouvir Shakespeare, em Hamlet:
"Há muito mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia.”

João Baptista Herkenhoff é professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo e escritor. Autor, dentre outros livros, de: Ética para um mundo melhor. (Thex Editora, Rio de Janeiro).

E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Alma de Cachoeiro. Por João Baptista Herkenhoff

João Baptista Herkenhoff

É sabido que os cachoeirenses são bairristas. Mas alguns conterrâneos têm pudor de expressar abertamente esta característica. Eu não tenho. Sou bairrista confesso.

Há momentos em que esse bairrismo explode mais forte, como agora, por exemplo, quando a Academia Cachoeirense de Letras acabou de completar cincoenta anos de existência.

Cachoeiro tem muitas instituições beneméritas, no campo da Cultura, da Educação, do Esporte, do Serviço Social. Mas acredito que a ACL seja o símbolo do conjunto das instituições.

Não se trata de considerá-la a mais importante. A perspectiva em que me coloco é outra.

A ACL é a instituição-símbolo porque a ACL aglutina todas as instituições. Busca representar todas, conta a história de todas, corporifica e imortaliza tudo que se faz e se fez em Cachoeiro. A Academia tem missão de resgate, testemunho, compromisso e reverência: resgate das lutas do passado; testemunho dos sonhos do presente; compromisso e reverência para com os projetos do futuro.

Quando podíamos imaginar, em 1962, que cinco décadas depois estaríamos comemorando o Jubileu de Ouro de nossa Casa de Letras!

Dos irmãos Herkenhoff, que participaram da fundação, dois já partiram para a Mansão do Pai – Pedro e Paulo. O irmão que escreve este texto ainda vive neste mundo provisório.

Cachoeiro tem alma. Para alcançar o sentido do que seja a alma cachoeirense é necessária uma incursão pelos caminhos da Antropologia.

Antropologia deriva do grego e significa "estudo do homem". A Antropologia Cultural ou Etnologia estuda as criações do espírito humano, que resultam da interação social, como notou Emídio Willens. É com a lente do antropólogo que podemos entender o que é a alma cachoeirense.

A alma cachoeirense foi talhada através do tempo. Na política, o grande Jerônimo Monteiro nasceu em Cachoeiro. Nas artes são cachoeirenses astros como Rubem Braga, Newton Braga, Roberto Carlos, Sérgio Sampaio, Carlos Imperial, Levino Fânzeres, Luz Del Fuego, Raul Sampaio Coco, Jece Valadão, Benjamin Silva, Narciso Araujo, Frederico Augusto Codeceira, Solimar de Oliveira, Evandro Moreira, João Mota, Marly de Oliveira, Nordestino Filho, Paulo de Freitas, Athayr Cagnin.

Essa alma cachoeirense é tão intensa e profunda que Rubem Braga escreveu: “modéstia à parte eu sou de Cachoeiro de Itapemirim.”

O grande Rubem não disse: modestia à parte eu sou o curió da crônica; modestia à parte eu sou considerado o maior cronista deste país; modestia à parte eu elevei a crônica de seu modesto espaço marginal para a condição de gênero literário de primeira grandeza.

Rubem Braga compreendeu que mais importante do que tudo isto era mesmo afirmar: modéstia à parte eu sou de Cachoeiro de Itapemirim.

João Baptista Herkenhoff, 76 anos, magistrado aposentado, professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo, escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

É livre a divulgação deste artigo por qualquer meio ou veículo, inclusive transmissão de pessoa para pessoa.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Julgar não é tarefa humana. Por João Baptista Herkenhoff

João Baptista Herkenhoff

Ministros dos altos tribunais, desembargadores federais ou estaduais, magistrados de cortes internacionais são, antes de tudo, juízes.


Há tanta grandeza na função, o ser humano é tão pequeno para ser juiz, é tão de empréstimo (empréstimo divino) o eventual poder que alguém possui para julgar, que me parecem desnecessários tantos vocábulos para denominar a mesma função.

Talvez fosse bom que os titulares de altos postos da Justiça nunca se esquecessem de que são juízes, cônscios da sacralidade da missão.

Já no início da carreira na magistratura, mostrei ter consciência de ser “de empréstimo” a função que me fora atribuída. Disse em São José do Calçado (ES), uma das primeiras comarcas onde atuei:

O colono de pés descalços, a mãe com o filho no colo, o operário, o preso, os que sofrem, os que querem alívio para suas dores, os que têm fome e sede de Justiça – todos batem, com respeito sagrado, às portas do Fórum ou da residência do Juiz, confiando na sua ação, na sua autoridade, na sua ciência, na sua imparcialidade e firmeza moral. E deve o Juiz distribuir Justiça, bondade, orientação, confiança, fé, perdão, concórdia, amor.
Como pode o mortal, com todas as suas imperfeições, corporificar para tantos homens e mulheres a própria imagem eterna da Justiça, tornar-se aquele ente cujo nome de Batismo é colocado em segundo plano para ser, até mesmo para as crianças que gritam, carinhosamente, por sua pessoa, na rua o... Juiz?
Só em Deus se encontra a resposta porque, segundo a Escritura, Ele ordenou:
“Estabelecerás juízes e magistrados de todas as tuas portas para que julguem o povo com retidão de justiça”. (Profeta Isaías).


Outra questão. Tempo vai, tempo volta e, no horizonte dos debates volta-se a discutir a conveniência de alterar, por força de emenda constitucional, a idade da aposentadoria compulsória dos magistrados, de 70 para 75 anos.

Os interessados na aprovação da matéria são, de maneira especial, os magistrados que se encontram à beira da idade-limite.

O empenho de permanecer na função, no que se refere aos juízes, é tão veemente que o humor brasileiro criou uma palavra para a saída não voluntária – expulsória. Diz-se então assim: “Fulano não vai pedir aposentadoria de jeito nenhum. Só saí na expulsória”.

Sou absolutamente contrário à pretendida alteração constitucional. O aumento da idade da aposentadoria compulsória retira oportunidades de trabalho para os jovens. Mais importante que manter os idosos, nos seus postos, é abrir possibilidades para os novos.

João Baptista Herkenhoff, 76 anos, magistrado aposentado, Professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo e escritor. Autor de Os novos pecados capitais (Editora José Olympio, Rio de Janeiro). E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br

P. S. – É livre a divulgação deste texto, por qualquer meio ou veículo, inclusive através da transmissão de pessoa para pessoa.

Eleições municipais. Por João Baptista Herkenhoff

João Baptista Herkenhoff

O primeiro turno das eleições municipais ocorrerá no dia sete de outubro, mas a propaganda gratuita na tv e no rádio já começou.


Quando pela primeira vez foi levantada a ideia de conceder tempo gratuito, no rádio e na televisão, para partidos e candidatos, houve rejeição por parte de alguns veículos, rejeição que se compreende, embora não se aprove, porque a franquia gratuita do espaço radiofônico e televisivo reduzia os lucros das emissoras. Mas uma forte pressão da opinião pública, em favor da inovação, fez com que fosse vitoriosa.

É certo que muitos candidatos e partidos desperdiçam o precioso tempo com mensagens de mau gosto, desprovidas de conteúdo ou, pior ainda, alguns maus políticos desfiguram o palanque do rádio e da tv para ataques pessoais e até mesmo para caluniar ou difamar os adversários.

Mas é assim mesmo. Paciência. Democracia não se outorga por decreto. Democracia é conquista do cotidiano e só se alcança a Democracia através do exercício democrático.


Pouco a pouco o povo vai aprender a distinguir alhos de bugalhos prestigiando os bons programas de partidos e candidatos que aproveitam o tempo eleitoral para contribuir na educação para a cidadania.

O Município é o alicerce da Democracia. Jamais um país alcancará a Democracia, em nível nacional, sem construir a Democracia municipal.

O eleitor deve escolher com extremo zelo o candidato que, a seu juízo, deve exercer o mandato de Prefeito, bem como o cidadão que considera merecedor de seu sufrágio para ter assento na Câmara de Vereadores.

Assistir aos programas eleitorais é um dever cívico, principalmente naquelas hipóteses nas quais o programa eleitoral é a única possibilidade de que dispõe o eleitor para conhecer os pretendentes aos mandatos em disputa. Talvez esses programas não sejam tão prazeirosos quanto um filme de suspense, uma novela com bons atores ou uma reportagem eletrizante. Mas procurar os caminhos disponíveis para selecionar bons candidatos é uma prova de amor à cidade onde vivemos.

Nos meus tempos juvenis o debate eleitoral era travado nos comícios em praça pública e em outros espaços que permitiam o contato direto dos eleitores com os candidatos. Eram também usuais os enfrentamentos tête-à-tête entre os postulantes aos cargos, sob a chancela de mediadores. Fui mais de uma vez mediador de pugnas eleitorais em Cachoeiro de Itapemirim. Com frequencia os ânimos se exaltavam e ao mediador cabia a tarefa de esfriar o ambiente.

Exalto as emissoras que ainda hoje promovem debates face a face. É um grande serviço que prestam à Democracia.

João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado, é Professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo e escritor. Autor do livro Curso de Direitos Humanos (Editora Santuário, Aparecida, SP). E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br

É livre a divulgação deste artigo, por qualquer meio ou veículo.


Informação multiplicada por: Moyses Alves dos Santos de Almeida
 

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